Hoje fazem exatamente 513 anos que Pedro Álvares
Cabral chegou ao Brasil com suas 13 caravelas. Ao primeiro monte que avistaram,
deram o nome de Monte Pascoal, eles estavam onde hoje é a Bahia. No dia 26 de
abril, já em terra, celebraram a primeira missa em terras brasileiras. Começava
ai o desmatamento da Mata Atlântica.
Há exatos 513 anos começava a exploração das
riquezas naturais do nosso país, do trabalho indígena, o corte do pau-brasil, a
corrida em busca de ouro...
O momento da chegada foi registrada por Pero Vaz de
Caminha, escrivão da esquadra de Cabral. Ele era responsável em escrever todos
os detalhes da viagem e este documento tornou-se o primeiro a retratar o
Brasil, ele marca o início da história do país, depois da chegada dos
portugueses.
Leia abaixo um trecho da carta escrita por Pero Vaz
e que foi enviada ao rei de Portugal informando-lhe da "descoberta":
"(...)
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de
longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril,
estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam,
topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas
compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o
nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que
chamam fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!
Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais
baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o
capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a
Terra da Vera Cruz.
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Carta de Pero Vaz de Caminha |
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco
braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em
dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E à
quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitos à terra, indo os
navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, treze, doze,
dez e nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em
frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais
ou menos.
Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra
de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das
naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si.
E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau
Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram
pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar
o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos
nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos
com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez
sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
(...)
E estando Afonso Lopes, nosso piloto, em um
daqueles navios pequenos, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e destro
para isso, meteu-se logo no esquife a sondar o porto dentro; e tomou dois
daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos, que estavam numa almadia.
Um deles trazia um arco e seis ou sete setas; e na praia andavam muitos com
seus arcos e setas; mas de nada lhes serviram. Trouxe-os logo, já de noite, ao
Capitão, em cuja nau foram recebidos com muito prazer e festa.
A feição deles é serem pardos, maneira de
avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma
cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm
tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo
furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma
mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador.
Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço
e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os
molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.
Os cabelos seus são corredios. E andavam
tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e rapados
até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a
fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria
do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e
as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda
como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui
basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em
uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés
uma alcatifa por estrado. Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho,
Aires Correia, e nós outros que aqui na nau com ele vamos, sentados no chão,
pela alcatifa. Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não fizeram sinal de
cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no
colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o
colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal
de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal como se
lá também houvesse prata.
Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz
consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os
havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma
galinha, quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram
como que espantados."